Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sem primavera e cigarros, esse ano (Parte I)

O suor é o que banha meu leito e o copo vazio decora minha vontade. Hoje, durante a tarde, um telefonema rompeu minha só-cidade e me lembrou das dívidas superficiais que deixamos mundo afora. Após o oposto do silêncio anterior, atirei-me pelo corredor que liga a sala à cozinha, as caras falsas à fome mórbida... Deitado e observando o teto mofado, pude perceber que somos anulados pelo que realmente existe, se assim dermos conta disso.
O mofo no teto existe, se faz presente e escuro, presente e fedorento... Mas a poesia das coisas não se deixa existir assim, tão puta aos olhos. A poesia de um vestidinho florido é talvez um pau excitado, ou uma inspiração de regalo... não se sabe ao certo onde e o que se faz de engenho à poesia das coisas. Em que lugar o universo guarda a poesia do andar de um homem manco, ou a poesia do operário sem salário, ou a poesia dos falsos artistas... Quantas formas terá uma apenas?
E fico estirado no chão observando atentamente se daquele momento foge essa essência, ah, meu deus  - grito – e a poesia dos poemas? Resolvo esquecer como covarde, tento a água do filtro de barro, mas quem vence é a garrafa de Martini.
Reparo meu corpo tombado em alma, sempre mal ajeitado ao universo paralelamente unificado de ninfetas. Ah, quem souber em mim algo, deveria me ligar. O telefone ronca de inanição. E o lance da poesia não morreu naquele sujo e úmido chão de corredor.
Masturbar-se é tedioso demais e qualquer orifício quente e úmido custa minha simpatia forçada ou umas notas mal cobradas.
Deito no leito de morte do dia. Cama da salvação do que passou, modernos e interruptos sonos... por que insurgem as dúvidas e qual motivos de tais relatos? O suor é consequência da frieza em mim, calefação humana que sofro por ser minha própria inexistência.
E posso escutar o coração bater tímido junto ao meu que se petrificou, apaguei, mas aqui permaneço. Ninguém pode me escutar? Capricharam na madeira e nas coroas de flores. E mesmo assim aqui estou, insatisfeito com o que virá e com a curta vida que não passou.

Sempre me cobraram algum livro que nunca fiz e histórias que nunca pude viver. A máquina de letras miúdas se nega a registrar minhas mentiras e do lado de fora de qualquer livraria haverá um filósofo doente, sujo e composto de éter. Ele irá questionar meus poemas e como pastor de butique ironizará meus contos e se o acaso permitir, uma pedra partirá a orelha esquerda do suposto Platão. Ninguém saberá de onde veio o arremesso, pois do céu apenas água, pois do chão apenas a submissa massagem dos pés e dos transeuntes apresados que correm relógios em si, pela Av. Paulista, não há pedras em suas mãos... apenas na composição das almas de alguns. E o filósofo gritará meu nome, jogará pragas em meus apostos mal colocados, em minhas criações não paridas e sobre os poemas com mais de três poesias cada, ele se ajoelhará, as mãos irão acariciar a orelha rubra do líquido amargo e nesse momento começa a acontecer minha breve história.
São cinco horas da manhã e tão jovem a data no calendário cristão que penso que a pedofilia de viver é um dos crimes mais cruéis à minha eterna fadiga. Na noite anterior não me sei do que fui, também não importa. Sento corcunda do lado esquerdo da cama, na mesa do computador alguns vestígios de poemas,  tento ler e a visão me castiga. Acho que era sobre política, meninas e a falsa realidade do futuro paulista.
Rimar talvez fosse necessário, mas o momento é de versos largos e peso sólido sobre palavras já conhecidas por todos. Já no trem,  reparo as pobres pessoas e suas histórias sem importância para quem busca algumas luzes londrinas e certas alucinações turcas. Estou perdido em egoísmo. E penso em paz, humanidade, amor, bebidas, salvação, imperialismo e tudo um monte de mais algumas coisas.
Estudar uma profissão é a minha principal insatisfação, não que eu queira apenas viver de literatura, mas me prostituir não vale tanto a pena para a felicidade surgir alva em minha fonte do prazer. Gosto dos verbetes e das formas, mas viver emocionando as pessoas... Não acredito tanto assim nos depoimentos cedidos aos meus textos. Sento em qualquer bar e bebo da minha bebida qualquer, esperando aquele momento em que o mundo comece a fazer parte do que sou e assim pensar que todos interpretam a vida como um poema contemporâneo.

By Camila Passatuto 

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