Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

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Entre listra balanço
Em amarra de panos
Meus olhos na via.
O calçar me serve?
Rouba da boca
O gole e dói.
O platinar rápido. Adentra.
Deve haver poesia, insultos,
Por festim, por guerrilhas.
Jogo-me na frente
E um jazz embala
Minha morte
No perseguir
De uma simples cintura-menina.

By Camila Passatuto

terça-feira, 29 de setembro de 2015

A Criar

Lembrei
De verso em verso

Uma cobra aturdida.

Era ela
A tal
Poluente
Poesia.

Bati tecla por tecla
Sucumbi
Elevei em brio

Por fim
Afim
Arrastei meus dias
A descompactar
Os sentimentos mundanos

Lembrei
Verso por verso
Uma cobrapoesia

Salva a alma
Remeiro que fui
Das coisas em prosa

Poeta de tela
Elevei em brio
Toda  e qualquer
Maestria.


By Camila Passatuto

Por que eles matam?

Apenas uma manhã
Sem mal

Maldade matutina
Arrancaram meus dentes

Minha pele estuprada
Pela faca.

Pele fraca.

Jorrei
Como fonte

Morri
Tonta, sem saber...

Um pouco sem graça.


By Camila Passatuto 


Combates

Já fui muito
Larga, pesada

Hoje me estreito
Ainda em dores

E culpo
Sem aludir

Acordo suada
Em todo desespero

Sou poema escorço
Com vontades

Já fui muito.

Hoje
Sou migalhas

Fome que sou
Das fomes
Que mato.


By Camila Passatuto

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Matinal

É uma farsa.
Você não deseja aquele emprego. Não ama verdadeiramente tua mulher e os dias quentes não animam teus olhos.
Mas eles querem assim.

Acho que não sei coar esse café do modo correto. Você sempre refaz meus afazeres e aponta os sentidos que tenho que tomar para fazer algum sentido.
E só quero tomar algo frio que aqueça essas ideias, que me tilintem de coragem.

É uma farsa já velha.
Não. Não gosto de dia após dia sem a constante reforma a te guiar.

A casa ainda está nova, os móveis um pouco danificados. Não vou ficar para ver a tinta perder a cor ou o cão morrer. É uma farsa, dessas que a gente entra e não sabe como entrou que quer sair e não sabe como entrou, amor.

By Camila Passatuto 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Mulher Lontra

Você me pergunta sobre o gosto da sarjeta
Com a vontade de ouvir o que amarga. Sempre.

Tenho a presença doce - dela - em minha boca
Apesar dos dentes lascados.

De lá uma vista colorida
Que põe a exaurir,
Fina,
Meu cinza.

Acaba-me o sono, cedo demais
E você observa por quais poros
Virá a poesia brava, retocada e sem ais.

“- Dela me alimento pouco
Veja cá o frágil corpo”

(Digo)

Os versos sem sentido algum.

Minha pele insiste em esmaecer
Os lábios cortados, não te afeta.
Todos caminham selvagens

E eu animal
Mulher lontra
Na cidade-jaula
A ruir e decorrer sobre nuas sarjetas.

By Camila Passatuto

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Anotações de Setembro - Parte 1

Ela chega todo dia com um ar doce e eu a salgo com a pele morena em suor. Sinto tanta pena quando estrago seu sorrir com o desajuste de um olhar inquieto e com a vastidão louca do não se encontrar, mas ela joga a ancora e puxa minha atenção para seu suleiro mar.

Eu acho estranho falarmos de guerra em pleno chá, mas ela sabe que tenho tantas batalhas e se começa em prosa, a que vou findar em discurso utópico, insiste que consigo. Vou ser grande?
Ajeita-se ao meu lado e se faz de um gole certo de uísque. Eu acendo um incenso.

A cidade continua a mesma encrenca de antes, eles não sabem o certo e apressam o que nem sei. Injetam nas veias o que bem encontram - me arruínam - e julgam meu desleixo. Larguei um bom emprego em plena crise. (Que porra, C.! Deixa a gente solta, larga e explode a alma sozinha.)

Ela nega minhas propostas. Quero deixar o país, o poema a e tentar algo em textos poéticos.
O Livro só deverá sair no pós morte, ela nega e chora. 

Ninguém deve vida.
A mensagem só chega depois que rompemos o lacre da caixa de correios.
Ontem tive medo de abrir a janela, não vi o sol. As alucinações estão mais fortes, vejo mulheres pulando na cama com ácidos alojados nos seios.

O proposto eu aventurei, larguei mão. O telefone sempre toca as cinco e todo dia ela chega com um ar doce, que me enjoa o desejo.

By Camila Passatuto

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Esguelha Rebeldia.

Não faço mais poesia
Dedico-me ao corpo nu sob o sol
Às cores mornas em tua via

Logo mais um mundo ruim
A enfrentar meus seios
Teus arreios

(Não segue e percebo)

Faça rasa força
E olhe
O épico cheiro

Só me sei assim.
Encontro o caminho
Do que escreve e deita.

-

Acordo em plena guerra.
Eles te queimam;
Adiante não me posso.

Bordo mais poesia
Desde que calei um rei
Com o poder do verso

(Calmaria)

Dedico-me ao corpo nu
Que a tudo revelia
Por assim ser

Relato nossa aurora
- Eles gritam, não aceitam -
Que rabisco em cinza
Todas as todas meninas.

Somos. Nós.
Em orgia que tudo habita

No poema que nasceu
Para ter como ventre
Esguelha Rebeldia.

By Camila Passatuto

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Espera de Maio

A caixa de correio está vazia
Considero teu lembrar,
Teu traço fraco,
Teu cheiro cocaína.

Pesquisei as velhas revistas
Nada traz mera resposta

Esvaziei meu estômago.
Estraguei boa parte da vida,
Mas você - ainda latente –
dos poucos danos, me esquiva.

Nenhum postal de Barbacena,
De São Luiz, Barra Bonita

Passou sem sirene, é polícia.
Afastei os dentes da janela
Escaldei a parede com suor

E é só espera
Lá por longe,
Cá dentro
Nem sou mais poeta.

Instalo-me na ânsia
De tua volta, revolta,
Minha Poesia Cadela.

By Camila Passatuto

domingo, 3 de maio de 2015

Testamento

Todas as sensações foram expostas

Guerreamos os absurdos
Até não sobrar
Até não dobrar mais um amor.

Todo o lixo
Que de tua boca se abençoa
Por rebeldia se faz ouro.
Some. Não revoa em teus ares.

(Pecado)

A corja mata todo bom senso
Tira de órbita uma ideologia.

E teus gritos não são ouvidos,
Pois não ouviste
As suplicas dos tantos condenados.

Teu vinho me azeda os lábios
E poeta frouxo que sou
Mato a cada linha
Um burguês.

(Condenado)

Teu trem passa mais cedo
Longe dos que penam
Às horas esclarecidas

E se me cega a linha
A alma avoa,
Despedaça
E sobre terra

Semeia.

(Pausa)

A corja me rodeia
Observa o silêncio

Questiona um verso
Prende um asno
Em análise.
  
E se ao fim desejar saber....

Fomos um prostíbulo
Onde todas as
Sensações foram
Expostas

(Verso livre)


By Camila Passatuto


Eu Adejo

Acena sem sentido
Dedos que dançam
No altar da despedida.

Eles levaram o pudor
A reza fraca
O filho que por muito
Doara a vida.

O cortejo é breve
Não há vala
Que caiba
Meu choro selvagem.

Acena sem ritmo
O corpo desajeitado
Em lotes de madeira
Pregadas em maus filetes.

Há tarde, Violeta!

Pois não foi tiro de canhão
Que levou nosso menino

(Pura cisma)

 - Foi olhar de descaso da polícia.

No acorde itinerário
Tende a tilintar o fim

- Je suis serein, chère.

Documentam,
rabiscam; e por análise:

"Cava mais fundo
a tristeza que sem pudor
brota em ti."

By Camila Passatuto 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Segundos

Tudo são veias em salto
Que recobrem o corpo
Ácido Alinho

Tudo são vidros esticados
Rasgados no golpe
Estilhaços de gente.

Essas são fases verdades
Acidentes em mim
Rouquidão urbana

Versos Semáforos.

Nada recolhe a forma.
Tombou a escada
Abusou o poder

Nada é caos que te molda.
Colosso em passos
Engendrou nossa festa

(Soca o espelho
Estrangula
Fecha o teu ser
Abre o que é).

Nossas histórias.
Urbanas veredas
Cá calço no ventre
Solidão ocidente

(Mera)

Rasteja por dentro,
Sorve.

Morte aparente
Não respeita
Não respira

Cala ao calar o poema.
Cala ao calar o poema?

Grita.

No final, meu amigo,

Tudo são seixos em salto
Glote rasgada
Óbito em cor
Marginal parada.


 By Camila Passatuto