Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Solidão em Sete Atos

Não falo de solidão... Porque dela, assim em tal ato, tiro a essência do existir.
É o que faço com a musa, com os temas e esquemas sutis que rondam minh’alma.
Poeta é sugador de existência.
Doa o que dói... Às vezes uma paz a mais.

Solidão que tão minha se tornou.
Hoje na varanda nem os fantasmas acompanham minha inanição poética.
O vento que não corre, faz pairar mais solidão em meus poros, o calor de estar só me envolve. Não reclamo, não lamento...
Eu sinto a paz que desenvolve meu eterno crescer de rebento.

Não sinto falta do que é ausente.
Solidão não é isso, solidão ainda deve ser definida poeticamente.
Se já se fez em algum tempo, pois bem, renovo definição, tão alegremente que irão morder os tornozelos e salpicar palavrinhas... Essa aí não é mulher sozinha.

Cai tristeza por onde caiu.
Cadê o pai, a mãe, os irmãos e irmãs?
Cadê a infância de pé sujo, de lenha e fogueira... Cadê o meu passado que não deve nem cobra...
Só de lembranças, de família
Do que fui quando criança.
Nego as dores e sou homens das mulheres e delas são as flores.
Cadê o colo de meu avô, seu chapéu, seu baralho... Nosso eterno corsário... Cadê?
Estou só de passado.

Solidão enterra minhas mágoas.
Das traições, dos amigos que nunca provei,
Do andar sem andares ao meu lado,
Dos sorrir sem outras alegrias, tudo um grande vão descompassado.
Solitário, seguro de sua existência... Segue feliz
Sabe o que não pertence
Sabe-se tão
Sabe-se só.

Estou só com o poema mais lindo que já fiz
Ele une almas
A minha com a sua
Ele une traumas.
Estou só com as músicas que ouvíamos.
Elas unem nossas melodias sussurradas durante o dia.
O meu grave e seu agudo.
Estou só, estou mudo...
Você colada n’alma,
Só assim enfrento o mundo.

Meus fantasmas esqueceram
De deixar um lembrete.
Que quando eu envelhecesse
Sairiam para bailar
Talvez comemorar meu encerramento,
Talvez por desacato ao meu viver.
Meus fantasmas esqueceram
Que não é tão feliz aquele
Que está só
Quando vai morrer.

By Camila Passatuto

3 comentários:

F. disse...

Belo poema. Parece-me fazer referência a um aspecto diferente da solidão: o sentir falta, não daquilo que existiu, mas daquilo que nunca existiu. Os passos que nunca nos acompanharam, os risos e piadas que nunca foram compartilhados, as tardes de domingo que passamos no quarto, lendo, enquanto poderíamos(e como desejávamos...)estar lá fora, brincando.

Letícia Losekann Coelho disse...

Nossa guria, li e reli... Uma frase para dizer o que senti ao te ler: um dos poemas mais belos que já li. Amei!
Beijos

Anônimo disse...

Impressionadíssima, guria! Quanta sensibilidade e talento! Parabéns... Paz e Luz!