Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


sábado, 23 de outubro de 2010

Contém urânio*

Rezou mais uma prece.
Mais fé, mais súplica.
Quer o bem
E para isso tem que sofrer.

Destruição em massa
Modelando o típico
O ridículo de sempre.
Mais fé, mais estridente.

Decide um ou outro futuro
Que não seja o seu
Não faz arte, não faz nada
Tem fé, tem coragem e não é.

Lá fora, lutam por poder
Cá dentro, ele luta
Por poder ser menos
Por querer ter mais.

Que fé? Que paz?
Permaneceu virgem de atos
Na catedral de mármore podre
Não luta por amor, por nada.

Releu relatos, não entendeu.
Pilatos, Jesus
E um cristo inventado.
Quem é? Quem eleger?

Ao sangue um dia jorrado.
Bebeu um gole de piedade
Véu sobre a consciência
Urna de prazeres em dormência.

Rezou mais uma prece.
Com dores dispares
Alívio não terá, sabe bem.
Mas insiste e me bate.

Grita em voz humilhada.
- Poeta, filho da puta,
Livre seus versos
Da escolha absurda.

Implorou como jovem no cio
Não sei se depois rezou...
Leu dossiês, reviu a matriz.
Era dia de eleger um nobre pingüim.

By Camila Passatuto

5 comentários:

Letícia Losekann Coelho disse...

Ê beleza... Cada vez que te leio fico com um sorriso imenso! Pois tu escreves poesia de uma maneira maravilhosa. Cada poesia, uma moldura para a alma!
Beijos

AninhaGR disse...

Ímpar esse texto e tua maneira de dizer tais verdades. Parabéns mesmo!

SexyMachine disse...

Belo poema...

Bjuxxxx

João disse...

Seus versos são vivos, há reviravoltas, um rolar de dados vertiginoso. Não que hajam versos mortos! Em ti há lampejos de consciência muito agudos, e de auto-consciência poética. Realmente, já havia citado Maiakovski aqui, mas preciso dizer novamente que o problema que pra ele se colocava, de uma certa falta de estabilidade, de tensão contínua, em que os versos vão do melhor para o pior, existe em ti também, mas não como falha, e sim como sinal dos tempos excessivamente subjetivos e velozes em que vivemos. É uma vitória versos que conseguem tocar na vida comum de todos os homens atualmente. É isso: não que hajam versos mortos, há poetas muitos despreocupados de monta com a vida...

A consciência, pra mim, de que bons versos só podem ser escritos hoje se necessariamente assumirem uma postura combativa, é comum na sua poesia.

Gosto de voltar, e voltarei.

Moska de Bar disse...

Eu gosto quando um olhar chama a minha atenção num simples avatar e me trazem até o que eles refletem. Bons olhos, Camila.
Te beijo