Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Vale do Diabo

De meias palavras, de palavras inteiras, de silêncio repleto de dizeres. Assim segue o poeta, doente de sentimento, pelas ruas úmidas da capital paulista.
Onde surge poesia.
É cada passo adiante, um olhar focado por ali mais distante, não repara... É reparado, moldado e enfeitado de acasos.
Segue o poeta. Passarelas e teatros municipais ilustram a pintura cinzenta que oferece a quem vê, a quem lê... A quem sabe poesia, a quem vive por entre espíritos rodantes e moradores do vale do diabo.
Poeta Anhangabaú, triste de nascença. Sorri com olhar quebrado, tem medo do escuro, porem navega no breu das entrelinhas.
Sabe-se. Duvida-se. Pergunta-se. Mente-se.
De meias palavras. Inteiras mulheres. Repleto de espírito.
Move-se inconstante por simplicidade depressiva, alegria efusiva, amores singulares, amor de vida, amor de morte... Poeta Anhangabaú, senta nas escadarias da Praça Ramos de Azevedo, sem papel, sem escrita e faz da solidão e do mistério a mais sensata poesia. Para os transeuntes, para os negros felinos, para os leprosos e meninos.
Mais (r) adiante. A galeria.
De quantas melodias se compõe uma vida, sua dissonante vontade exige passos tímidos por entre jovens coloridos.
Rolante. Escadas. Guitarras.
Poeta distraído faz um verso sem querer entre as pernas da garota. Saia justa, texto amplo e sua mocidade não tradicional o expulsa do fatídico local.
É na rua. Poeta procura a musa. Tão distante. Inferno de Dante.
Rua úmida. Capital escura.
Poeta Anhangabaú, sozinho, doentio, vestido de palavras... Nu de razão.
Poeta Anhangabaú. Seu. De meias palavras, de palavra nenhuma, de verbo deslocado e do sempre vale do diabo.

By Camila Passatuto

2 comentários:

Evandro de Souza Gomes disse...

Camila, teu texto é muito bom.
Já não me surpreendes..
És presente.. e o futuro te espera.
Sei bem que o preencherás com teu talento... E os frutos..
Ah, os frutos!
Todos eles serão doces,
E sorverás com a sofreguidão do desejo insaciável
Beijo

Evandro

João disse...

Lembra aquele poema do Mário de Andrade, onde o joelho dele fica no Pacaembu, o sexo na avenida paulista... etc.

Legal. Tu escreve bem. Tem pulsar, escreve em quantidade, mas isto a gente aprende a reparar menos quando lê e vê que uma pessoa tem algo a dizer.