Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


sábado, 29 de agosto de 2009

Nascer

Não acontece como deveria acontecer, o pensamento é quase inexistente, o querer está dentro de seu corpo, mas alguém alienou os sentimentos de revolta. O olhar no espelho mostra apenas pele e vontade, olhos sem nenhum vestígio de dignidade. Ao sentar para o café, a fome se alimenta de não estar, de um mal ficar permanente. A felicidade brinca demais com sua solidão, não é feliz longe de platéias, platéias que exijam sua agonizante felicidade.
Tudo começa a voltar a ser só metade, a ser um inacabado pensamento, um desfeito final... Sua abstinência machuca mais do que qualquer vício, coloca em ruína a concepção de qualquer projeto melodramatizado.
Não acontece, seu corpo sobrevoa, suas perguntas esqueceram do contexto, o seu contexto fugiu por alguma brecha da cabana. Procura telefones, investiga sobreviventes de sua amnésia momentânea; o que acha é apenas trapos de destinos possíveis em sonhos que desdobram por ali.
Ao clamar um nome, seu corpo cansado descansa de esperança, alguma salvação pode entrar pela porta, um anjo destemido e sem pudor. Ao permanecer diante de realidade, se assusta, imagina, replica... O anjo chega sem perguntas, o liberta de sua moralizante dor. Ao reclamar um nome, sua alma descansa cansada de angústia, nenhuma atormentação pode o tirar dali, um anjo destemido zela por ele.

By Camila Passatuto

sábado, 22 de agosto de 2009

Julho Breve*

Sob um sol envergonhado, uma brisa tão menina e o som ambiente mais que nulo, estavam lá. Eu nem percebia que em mim algo fazia parte, ela também não se esquivava da distância evocada naquele momento. Nossos corpos ali estavam, sob um sol envergonhado, uma brisa tão menina e o som ambiente mais que nulo, estavam lá.
Minha presença, junto com a dela, desfalecia em pleno inverno tropical. Eu voava, ela talvez estivesse imersa em sonhos ou sofrimentos, mas eu voava na imersão da garota e não importava qual fosse, eu sei que estava ali, em lugares que nunca percorri, mas ela me guiava com a respiração e me protegia com o simples não querer de acontecimentos.

By Camila Passatuto


Bloqueando a seleção de texto em um site

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Fobia Minha

Não quero me afogar. Sentir. Conter-me de água, não quero me desesperar quando começar a afundar. Sentir e ressentir esse medo, quero sair seca do excitante mar de desarmonia que formou ali por adiante de meus pés. Pés úmidos, as lágrimas caíram, me molhei de mim, me afoguei de eu.

O desespero ainda toma conta, como um pai atencioso toma conta de sua ninfa desprotegida. A água chega e me transcende de mim, me excita com a fobia de densidade, com essa física de números racionais e com a vida submersa que me deseja.

Tenho medo e procuro no espaço atemporal uma escrita que não confunda, mas que não se explique, que não me desaponte, mas é tarde...a água bate no peito, e tudo me aperta, a água invade o nariz e meus pulmões e tudo escurece. Não mais grito, não mais evoluo, não mais, nada...

E acordo. É sonho ruim. É tempo bom para aprender a nadar.


By Camila Passatuto

domingo, 9 de agosto de 2009

Escrita de saudade


Estou aqui, meus olhos percorrem o quarto, uma inútil tentativa.
Sua alma dança, etereamente, entre o brincar dos meus dedos e o chorar de um desespero que te clama.
Seu riso voa por esse ar, ar que sem você fica tão parado, estonteia e mortifica.
Estou mais em mim ou estou tão em você que me perco no ninho que sempre me criei, pois não tenho a latitude nem a longitude de seu corpo, corpo que me guia, corpo que procuro.
Estou aí, mais aí do que aqui, nunca aqui e sempre aí, em cada respirar, em cada detalhe de existir que você insiste em conduzir. Permaneço sendo constante, constantemente sendo sua por amor do amor, por tudo e por nada. Continuo crescendo e o que sinto continua a crescer, por motivos e sem motivos, por força do destino e por fraqueza de brisa que ainda não chegou.
Estou aqui, mas sem questão de estar, se faz sentido ou se deixa de fazer...sem o seu toque eu não consigo, sem o seu cheiro e o seu jeito...não tem jeito...estou aqui, mas sabe...mais aí do que aqui.

By Camila Passatuto