Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


sexta-feira, 21 de março de 2008

apenas livros...

Um dia me perguntaram quantos livros eu já tinha lido em toda minha curta vida, não pude responder porque nunca terminei de ler um. Nunca tive paciência para ficar horas a fio me afogando em histórias que não me incutiam. Em vez de lê-los eu apenas os usava, sim era isso, sempre saia da biblioteca com dois ou três livros, era mágico o poder que eles me davam, muitas vezes eu os abria em minhas viagens de trem e ali era onde mais me dava prazer, fingia que podia devorar rapidamente as linhas, mas apenas passava os olhos naquelas pequenas palavras e nada de compromisso com o encarte.

Ao chegar em casa sempre os jogava num canto e deixava que eles admirassem minha estreita relação comigo mesma.
Os livros sempre me foram indispensáveis, quando criança rasguei uma enciclopédia inteira e para não levar um dos maiores castigos enterrei no jardim a minha vitima, ali estava uma história para contar aos netos ou até mesmo as respostas para todas as minhas dúvidas.
Um dia me perguntaram se eu iria publicar um livro, mas eu me pergunto, para quê? Sei que nunca vou lê-los e no máximo eu iria rasgá-los e enterrá-los para que ninguém soubesse e nem contasse para meus netos o que fui capaz de criar ou até mesmo para ninguém saber das minhas miseráveis respostas...

By Camila Passatuto




quinta-feira, 13 de março de 2008

dia-a-dia

Sentou, pegou uma caneta preta e uma folha qualquer, decidiu escrever algo que fosse deprimente, logo se viu rodando por palavras de rasos sentimentos, o olhar percorria as linhas pautadas na folha, sua inspiração não podia ser mais a mesma alma quebrada de todos os antigos poemas, agora vivia em tempos de garoa calma e de algodões doces, sua escrita sairia mansa e tímida, se conhecia muito bem a ponto de não poder falar sobre si mesmo nos textos. Ainda com a folha em branco e a caneta acomodada sensualmente no canto da boca, uma explosão de pensamentos consumia a pobre criatura, por onde começar? Que ritmo tomar? Que musa roubar...? Odiava as rimas, achava-as de um pobre gosto literário, só se permitia rimar em silêncio.
O barulho alucinante de uma buzina soava do outro lado da rua, isso desviava seus pensamentos, mas num instante impreciso rabiscou algumas palavras, olhou-as com carinho, como uma mãe mira um filho ao chegar, passou os dedos sobre o papel como se tirasse a poeira chata do orgulho artístico, sem mais enrolação deixou o papel de lado e caiu assimetricamente na cama, suas mãos que a pouco se dedicavam a arte de escrever agora tomava um rumo incerto percorrendo sua pele, deslizando em suas curvas e se colocando à serviço da distração.
Após um tempo, sentou-se, pegou a mesma caneta preta e um papel qualquer...Era hora de começar a ser poetisa novamente...


By Camila Passatuto

Bloqueando a seleção de texto em um site


domingo, 9 de março de 2008

Rumo ao...

Espiou pela fechadura o que se passava lá fora, era um dia úmido e calmo demais para ser o seu dia, talvez o calendário seja do ano retrasado e hoje não seja exatamente hoje, mas mesmo assim o relógio marcava a despedida e o empurrava em um abismo calmo e claro... Olhou ao seu redor e seus objetos diziam adeus com a imobilidade de quem perde uma partida de xadrez, as paredes não se mostravam tão insignificantes como a tempos atrás, hoje elas o olhavam com tristeza e ao mesmo tempo com uma cumplicidade...só elas sabiam... como se calar diante de tais crimes...
Malas prontas e uma pontinha falsa de orgulho que o tirava dali o mais depressa possível, sem olhar para o que estava deixando, seguiu firme pela rua, pensou em tudo o que fizera até ali, questionou se o que cometera no passado tinha válido de algo para o seu tão presente futuro, relembrou de momentos de falsa alegria e se surpreendeu consigo mesmo, tivera a força de um leão sendo apenas um canarinho sem ninho...Hoje o leão deveria aparecer e devorar sem dó o pequeno canário...
Ao se acomodar no ônibus de viagem e sentir o motor rugir, sua alma deu um salto que quase se escapuliu de seu corpo, seus olhos fixaram uma imagem de poucos minutos atrás, o sentimento que se descobriu ali foi o do mais fútil possível, não conseguia pensar em outra coisa a não ser naquela imagem...Nada mais o importava naquele instante, malas, adeus, paredes, crimes, passado ou futuro...Nada se comparava ao que acontecera a minutos atrás....Com toda aquela confusão ele se esquecera de pegar sua coca-cola que já tinha deixado paga no barzinho da rodoviária...Sem mais o que fazer, fechou os olhos e num suspiro bobo e mal feito deixou transparecer um sorriso de criança que espera sem sono o seu primeiro dia de aula.

By Camila Passatuto